Está difícil explicar o benefício da Governança para a TI?

O primeiro princípio do COBIT 5- "Atender as necessidades das partes interessadas" - recomenda o que deveria ser a razão de existir da TI

Está difícil explicar o benefício da Governança da Tecnologia da Informação? Esta é uma pergunta interessante, pois a área de Tecnologia da Informação (TI) vem sendo provocada a provar o seu valor como parceira do negócio, além de responder rapidamente às demandas e necessidades de inovação. Espera-se que a TI contemporânea deixe de entregar apenas serviços de tecnologia e que a Governança ajude nesta missão.

Antes de mais nada, acredito que a boa Governança olha para a cultura organizacional e promove uma consistente e determinante auto avaliação, “com transparência”, e a reafirmação das práticas corretas e sustentáveis na organização. Ela também ajuda a melhorar processos, ajustando-os no curto, médio e longo prazo, além de estimular a autogestão.

Como efeito prático, as práticas de Governança, traduzidas em diretivas e ações, não podem acabar em um quadro pendurado ao lado do quadro de Missão e  Visão da organização. Elas precisam sair do papel! Enquanto a Governança busca o alinhamento às necessidades do negócio, a TI precisa ajustar os seus processos de acordo com as necessidades e a velocidade do negócio, evoluindo para processos mais robustos e alinhados com a visão da Governança de TI.

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O valor deve ser mensurável
O primeiro princípio do COBIT 5- "Atender as necessidades das partes interessadas" - recomenda o que deveria ser a razão de existir da TI. Este princípio se baseia na afirmação que as organizações existem para criar valor para as partes interessadas. Pode até parecer óbvio, pois nenhuma organização nasce para tirar valor, correto? Mas a maioria muda de rumo como um timoneiro que escolhe navegar por correntes perigosas... 

Anos atrás, escrevi um artigo intitulado "A culpa é da Governança", onde menciono o caso de uma organização de sucesso e orgulho para o povo brasileiro, cujo valor elevado de mercado atraiu muitos investimentos no Brasil e no Exterior. Conheço pessoas que usaram recursos do FGTS para comprar ações e acredito que tenham realizado um excelente negócio durante algum tempo. Os últimos acontecimentos, no entanto, desfavoreceram este otimismo e as previsões para 2017 não são as melhores, apesar da lenta e morosa tarefa de reconquista da confiança. A Petrobras é um exemplo de uma organização que deixou de atender às necessidades das suas partes interessadas. Atendeu às necessidades de um grupo restrito e não é isso que a Governança espera! 

Completando a visão que o COBIT 5 tem para este princípio, não basta apenas criar valor para as partes interessadas, este valor precisa gerar valor e manter o equilíbrio entre a realização de benefícios, a otimização dos riscos e uso dos recursos.

equilíbrio

Valor a qualquer custo?
Não. Não se trata de criar valor a qualquer custo. Esta questão é inegociável e envolve toda a organização, suas partes interessadas e mostra a importância dos instrumentos de controle, Governança e gestão. Apesar de o COBIT 5 olhar para a Governança e a gestão de TI, ele se conecta à Governança Corporativa e ajuda a criar um sistema de Governança e Gestão personalizado que vai desde a Governança Corporativa até a base operacional. Esta é a primeira etapa para um processo sustentável. Se isso não for seguido com foco e dedicação, problemas serão inevitáveis, demandando ações enérgicas e tempestividade para ajustar o foco. O maior risco de sucesso para este modelo costuma vir de quem está mais próximo dos processos, por optar pelo caminho mais fácil, aplicando inclusive o famoso jeitinho brasileiro.

O resultado do sucesso desta empreitada dependerá da engrenagem com a participação coletiva. Um sistema de Governança complexo envolve diversos atores, processos e muito esforço. Não pode haver espaço para improvisação. É necessário um bom planejamento, um time engajado e comprometido, foco, direção e a “batida de bumbo” para fazer a engrenagem girar. 

O resumo para o maior benefício da Governança de Tecnologia da Informação é ser compliance para criar valor para a organização, oferecendo serviços eficientes e inovadores de tecnologia.

(*) Fernando Cruz é sênior em Governança de TI na Itaú Seguros de Auto e Residência, docente na UAM e membro da CDDC na OAB/SP